Segundo Jane Jacobs, urbanista e ativista social, a cidade é formada por relações sociais, não apenas prédios e edificações, essas relações são elementos fundamentais para um planejamento urbano eficiente e funcional. Esse é um dos principais aprendizados da faculdade de Arquitetura e Urbanismo, mas destoa da realidade e vivência cotidiana que prioriza os carros em detrimento das pessoas.
A ideia de que as cidades são para as pessoas é uma das fundamentações teóricas para introduzir discussões acerca do Urbanismo, o que parece óbvio, mas sempre precisa ser lembrada devido a sua complexidade. Neste ponto, a identificação é um fator essencial, uma vez que cria a relação entre o meio e o indivíduo, e a sua falta cria cidades impessoais. Por tal motivo, é mantido o questionamento do porquê este conceito não é vivenciado na maioria das cidades tradicionais brasileiras.
A imagem da cidade é construída através de percepções pessoais, vivenciadas e adquiridas no cotidiano, cada indivíduo possui suas próprias interações com o espaço, por meio do trabalho, lazer ou relações sociais estabelecidas, essas experiências compõem uma narrativa coletiva. Para estabelecer a conexão entre a cidade e as pessoas, é necessário um elemento que seja inserido no contexto urbano e integrado à vida social.
Além disso, a vivência da cidade foi comprometida pela pandemia, resultando em um impacto significativo na interação entre as pessoas e o ambiente urbano, os espaços públicos sofrem com a diminuição acentuada no número de pessoas, e a cidade dinâmica conhecida, se torna momentaneamente estática. Visitas, passeios e encontros foram interrompidos, provocando um distanciamento. As relações interpessoais reduziram e as pessoas ficaram mais individualistas, o que afetou mais ainda as noções de cidadania e coletividade.
Em um contexto geral, é evidente a necessidade da população se apropriar e/ou reapropriar dos espaços públicos e da cidade como um todo. Então, para os futuros arquitetos e urbanistas, antes da análise formal é preciso olhar pela perspectiva de sensibilidade como cidadão. O momento é uma oportunidade para todos de revisitar a cidade com um novo olhar, mais apurado de quem esteve tão distante por um tempo, sendo importante conhecer a cidade novamente e reconectar-se. Um dos elementos potenciais para criação dessa identificação é o patrimônio. Quando bem trabalhado, se manifesta e se integra no cotidiano de todos, estabelecendo conexões emocionais, e, portanto, enriquecendo a cidade e sendo um convite à reapropriação do espaço. Sobretudo, é uma ferramenta pedagógica para exercer cidadania através do direito à memória.
Explorar os espaços urbanos, valorizar o patrimônio e compreender como a cidade evoluiu durante esse período desafiador são aspectos essenciais na construção de um entendimento mais profundo sobre o urbanismo pós pandemia.
Sobre a cidade mantém-se a reflexão :
Sua essência é a complexidade do uso das calçadas, que traz consigo uma sucessão permanente de olhos. Essa ordem compõe-se de movimento e mudança, e, embora se trate de vida, não de arte, podemos chamá-la, na fantasia, de forma artística da cidade e compará-la à dança[…] – Jane Jacobs
GIOVANNA CAMPOS e LUÍSA TAVEIRA, Estudantes de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade de Ribeirão Preto.