No dia 26 de maio de 2020, o Instituto Paulista de Cidades Criativas e Identidades Culturais (IPCCIC) e a Prefeitura do Município de Ribeirão Preto, por meio da Secretaria da Cultura, assinaram um Termo de Cooperação Técnica. O documento estabelece relações conjuntas que abrangem a curadoria do projeto de intervenção, recuperação e restauro do Palácio Rio Branco, no que se refere aos aspectos históricos e estéticos. A ação não prevê a transferência de recursos financeiros e será realizada em caráter de responsabilidade social.
Ao aceitar a tarefa, os membros do IPCCIC entenderam a importância de assumir uma postura de cidadãos cocriadores em relação ao patrimônio cultural do município. Em outras palavras, decidiram ter uma participação ativa, contribuindo com os diversos saberes de natureza interdisciplinar, que é a característica da equipe que compõe o Instituto.
Na cláusula primeira do Termo, no item 1.2, ficou definido que, por curadoria, se concebe:
a atuação no sentido de selecionar, pesquisar e orientar as escolhas em relação ao patrimônio a ser preservado, neste TERMO, o Palácio Rio Branco. Visa a garantir sua extroversão e fruição à sociedade, respeitando as características do bem enquanto referência à identidade cultural ribeirão-pretana.
De maneira ampla, o trabalho do curador engloba a pesquisa, seleção, criação, gestão e segmentação de informações, imagens e ideias. A atividade deve ter como uma de suas metas a difusão, fruição e comunicação de conteúdos específicos para um público-alvo definido. A curadoria de arte, como a função mais conhecida entre o público em geral, estabelece algumas premissas para esse campo de atuação, como a tutoria, o cuidado e a preservação, desde a sua proposta, realização, como também o gerenciamento do processo[1].
Muito além de escolher objetos para integrar uma exposição, os curadores são mediadores culturais, cuja formação e maneira de atuar possibilitam o diálogo entre o responsável técnico ou artístico pelo projeto e o público-alvo.
Seguindo por esse caminho, o curador de projetos e conteúdos históricos relacionados a bens tombados deve levar em conta outras questões fundamentais. Uma delas é a necessidade de estabelecer diretrizes que nortearão o projeto de intervenção para incluir, minimamente, a garantia: (1) da salvaguarda dos valores históricos, estéticos e do significado simbólico do bem para a memória da população; (2) da preservação das características originais do bem; (3) do respeito à legislação e às diretrizes de preservação para o patrimônio cultural tombado; (4) da observação e articulação do bem ao contexto em que se insere.
Outro aspecto a se considerar são os valores atribuídos ao patrimônio cultural pelos munícipes. Ao tratar de bens culturais tombados com significativo valor histórico, como é o caso do Palácio Rio Branco, em Ribeirão Preto, o curador deve compreender a perspectiva da população. Para isso, é preciso conhecer as referências culturais que formataram as identidades da localidade onde se insere o bem.
Além disso, o curador precisa estabelecer diálogos entre os atores envolvidos no projeto de restauro, bem como garantir que a percepção da sociedade sobre o patrimônio seja levada em conta durante a proposta e execução do projeto. Essa postura é importante não apenas para salvaguardar as características originais do bem, durante a intervenção e o restauro, como também para pensar formas de ampliar a sua apropriação por parte das pessoas.
Diante disso, é possível considerar como inovadora a decisão estratégica de definir uma curadoria externa ao governo municipal para o projeto de restauro do Palácio Rio Branco em Ribeirão Preto. Afinal, aponta para a possibilidade de ser estabelecida uma experiência participativa, na qual os representantes do poder público podem trabalhar com profissionais da área da cultura, compartilhando responsabilidades e decisões.
[1] FERREIRA, R. O que é curadoria de arte. Disponível em: https://citaliarestauro.com/o-que-e-curadoria-de-arte/. Acesso em: 02 jun. 2020.
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