Em 2003, o Atlas do Esporte no Brasil já mapeava o desaparecimento gradativo de clubes em várias modalidades, como a bocha. Esse é um fenômeno que vem sendo estudado em países como os EUA e começa a ser discutido no Brasil. Em 2011, o Sindicado dos Clubes do Estado de São Paulo (SindiClube), informava que mais de dez instituições desse tipo fecharam as portas nos últimos anos. A crise econômica, o aumento dos condomínios com áreas de lazer e a opção por fazer musculação ou pilates em academias, ao invés de jogar polo aquático ou bocha com os amigos no clube são apontadas como algumas das razões desse processo.
Contudo, o fechamento desses estabelecimentos de convívio coletivo são um dos indicativos de algo ainda grave: a perda da “cola” que une o tecido social das nossas comunidades. Os pontos de encontro que antes eram comuns em nossos bairros estão deixando de existir. Temos cada vez menos oportunidades de interação e convivência, tão necessárias para a construção do senso de comunidade, marcado pela confiança no vizinho.
Além disso, o fortalecimento das relações sociais conta com outros importantes elementos: a existência de lideranças locais; a participação voluntária na vida da comunidade; a troca de informações; as normas sociais percebidas e respeitadas; a noção de vizinhança e, por vezes, a segurança emocional. Essas são dimensões de apoio social para que tenhamos qualidade de vida no lugar onde habitamos.
Tudo começa com os nossos vizinhos. Tem início com o cultivo do sentido de vizinhança, promovendo mais oportunidades de interação social, e de envolvimento com a comunidade, por meio da construção de experiências comuns. Principia-se com a escolha, com o investimento e a responsabilidade pessoal com o coletivo. Não raro, constitui-se em coisas simples, como fornecer e obter dos outros membros da comunidade uma ajuda, como olhar a casa do vizinho quando ele viaja.
Entretanto, às vezes pode significar apenas abrir um sorriso para o habitante da casa ao lado, quando tiramos o carro da garagem. Abandonando a postura do “Eu contra Eles” para adotar um comportamento mais solidário, pautado no “Nós com os Outros”.
Artigo publicado originalmente no jornal A Cidade – Ribeirão Preto – julho de 2018