O ano de 2020 começou com um inimigo implacável e invisível, que abalou os líderes de grandes nações em todo mundo e fez-nos repensar nossas fragilidades, o que temos feito até aqui.
O poderio militar nuclear dos mísseis, os grandes exércitos e as armas tecnológicas de nada serviram nesse combate; os muros levantados não impediram a invasão e a expansão do inimigo; nossos planos de saúde mais caros não foram suficientes para lidar com a falta de aparelhos respiratórios.
Na quarentena, quem possui o privilégio de estar em casa já sentiu que nossas televisões e celulares de alta tecnologia não foram suficientemente capazes de entreter-nos, de retirar-nos do meio da solidão e da angústia vivenciada por todos.
A conta do nosso egocentrismo chegou; se antes bastava que nos preocupássemos apenas com nosso país, quiçá nossa cidade, hoje já não basta mais. Agora para que funcione para mim, é preciso que funcione para o mundo todo.
Tempos difíceis servem para realizarmos reflexões incômodas, aprendermos e, então, caminharmos adiante. Não haverá vacina – ou hidroxicloroquina – que finde permanentemente os tempos sombrios, caso não modifiquemos nossa forma de agir no mundo.
Chegamos a um ponto decisivo na curva da inflexão: ou mudamos, de fato, a forma como convivemos como sociedade, ou estaremos sempre à mercê do nosso individualismo, materializado em diversas espécies de crises.
Edgard Morin nos fala que, ao conscientizarmo-nos da nossa complexidade, compreendemos que jamais poderemos escapar da incerteza ou possuir um saber total. Por isso, o apego a verdades absolutas e a modelos ditos como de sucesso, comprovadamente já obsoletos e fracassados, fecha-nos para vivência da aprendizagem com o outro e para o acompanhamento das transmutações naturais da vida.
O Covid-19 escancarou algumas realidades, que já vinham se apresentando há algum tempo: definitivamente não estamos todos no mesmo barco, partimos de lugares bem diferentes, mas navegamos todos no mesmo mar, sentimos as mesmas angústias, os mesmos medos, as mesmas dores… Quando a água realmente atinge-nos, não importa se você estava no navio ou em uma canoa, o afogamento não será menos doloroso por isso.
Estamos destruindo o planeta por intermédio do consumo desenfreado. Nessa quarentena, é possível que você tenha acompanhado as seguintes notícias: “Após anos, Himalaia fica visível na Índia pela redução brusca da poluição”; “Poluição do ar em São Paulo diminui 50% durante a quarentena”; “Quarentena deixa água dos canais de Veneza cristalina”, dentre outras notícias.
O que isso significa? O planeta está respirando com a nossa ausência!
Isso prova que a regeneração acontece com a mudança de hábitos. Temos, contudo, anos de danos sequenciais a serem reparados. Precisamos repensar nossa forma de consumo e o modelo de sociedade que construímos a fim de que não continuemos colhendo terremotos, tsunamis, doenças e chamemos tudo isso de desastres, crises, culpabilizando a globalização, os líderes, as empresas, o outro… Sempre o outro!
Precisamos, indubitavelmente, nessa trajetória de ressignificação, do amor como atitude pedagógica para reaprendermos o verdadeiro sentido de comunidade e de solidariedade. Para que isso seja possível e possamos multiplicar cidadãos cocriadores, como falamos nos “Seis Passos para Cidade Humana”, é preciso, antes de tudo, que nos responsabilizemos por nossas ações e assumamos nosso local no mundo.
O amor, como verdadeira atitude pedagógica, ensina-nos a olhar paras diferenças com empatia, auxilia-nos no processo de aprendizagem e reconhecimento do sentido de pertencimento e comunidade. Mas, antes de pensarmos em comunidade, é necessário pensarmos no indivíduo e no exercício da autorresponsabilidade.
Se eu não me vejo como parte do problema, como vou achar que sou parte da solução?
Você, leitor, já se questionou qual sua participação em tudo isso que estamos vivendo? Seja qual for sua parte no problema, não tenha dúvidas, você é parte essencial para solução.
Charaiveti, Charaiveti (sigamos)!
*Deseja saber mais sobre o IPCCIC e os Seis Passos para a Cidade Humana? Acesse o nosso site: https://www.ipccic.com/. Conheça o livro ” Os Seis Passos para a Cidade Humana” publicado pelo grupo em 2018: https://www.estacaoletras.com.br/product-page/os-seis-passos-para-uma-cidade-humana.